sexta-feira, 15 de março de 2013

Família foi humilhada com documento mentiroso, diz filho de Herzog

BRUNA BORGES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


A família de Vladimir Herzog recebeu nesta sexta-feira (15) uma versão corrigida do atestado de óbito do jornalista, morto em 1975, durante a ditadura militar.
Na certidão, revisada após determinação da Justiça, a causa da morte é "lesões e maus- tratos sofridos durante o interrogatório em dependência do 2º Exército (DOI-Codi)", que substituiu formalmente a versão de "asfixia mecânica por enforcamento".
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"É uma importante vitória. É um resgate das histórias dessas pessoas que construíram um país mais democrático. A família foi humilhada com o documento mentiroso", disse Ivo, filho do jornalista.

Cerimônia de entrega do atestado de óbito de Vladmir Herzog

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Moacyr Lopes Junior/Folhapress
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Clarice Herzog, viúva de Vladimir Herzog, mostra o novo atestado de óbito de Vlado ao lado do filho Ivo (à esq.), do neto Lucas e do marido, Gunnar Carioba (camisa xadrez)
CRONOLOGIA DO CASO VLADIMIR HERZOG
30.ago.2012
A Comissão Nacional da Verdade recomenda ao Juízo de Registros Públicos que seja retirada a referência a suicídio no atestado de óbito de Vlado
24.set.2012
O juiz Márcio Martins Bonilha Filho determina a alteração do registro, para que conste que a morte decorreu de "lesões e maus tratos"
28.set.2012
A promotora Elaine Maria Barreira Garcia entra com recurso para substituir o texto para "morte violenta, de causa desconhecida"
12.dez.2012
A Justiça rejeita o recurso apresentado pelo Ministério Público que pedia nova mudança no atestado de óbito
15.mar.2013
A família de Vladimir Herzog recebe a nova certidão de óbito do jornalista

A viúva do jornalista, Clarice, o filho, Ivo, e o neto, Lucas, receberam o documento das mãos de Rosa Cardoso, integrante da Comissão Nacional da Verdade.
Para Clarice, a entrega do documento é mais um passo para a descoberta da verdade sobre a morte de Vlado, como é conhecido o jornalista, e de outros perseguidos políticos. A família diz querer o reconhecimento e julgamento dos culpados pela morte do jornalista. "Recebo este atestado com muita felicidade porque é uma conquista para minha família e para toda sociedade", disse.
Estiveram presentes na cerimônia de entrega do atestado a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos), o presidente da Comissão da Anistia e secretário Nacional da Justiça, Paulo Abrão, e o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Paulo Sérgio Pinheiro.
"Se até pouco tempo a família de Vlado tinha um atestado mentiroso, isso mostra que temos tantos outros atestados por aí que precisam ser corrigidos", defendeu a ministra Maria do Rosário. Para ela, a entrega do novo documento é importante "para que venham muitos outros."
O coordenador da Comissão da Verdade disse que a retificação do atestado é um marco e um reconhecimento da verdade.
Herzog se apresentou espontaneamente ao DOI-Codi após ter sido procurado por agentes da repressão em sua casa e na TV Cultura, onde trabalhava como diretor de jornalismo. Ele foi torturado e espancado até a morte.
A alteração no atestado de óbito foi um pedido da família e da Comissão Nacional da Verdade. Em setembro de 2012, o juiz Márcio Bonilha Filho, da 2ª Vara de Registros Públicos de São Paulo, acatou a solicitação e determinou a correção.
É o segundo caso de retificação de atestado de morte ocorrida na ditadura. Em 2012, o juiz Guilherme Madeira Dezem, do Tribunal de Justiça de São Paulo, determinou que fosse alterada a certidão de óbito de João Batista Drumond. No atestado, onde constava como causa da morte "traumatismo craniano na Avenida 9 de Julho" foi alterado para " em decorrência de torturas físicas nas dependências do DOI-Codi no 2º Exército, em São Paulo". Ele era um militante comunista e morreu em 1976.
O ato de entrega do novo documento à família aconteceu no Instituto de Geociências da USP (Universidade de São Paulo).
Reprodução
*O registro de óbito original foi grafado com W e não V como é o correto, por isso a nova versão não pode ser corrigida.
*O registro de óbito original foi grafado com W e não V como é o correto, por isso a nova versão não pode ser corrigida.

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