segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Maria do Rosário quer apressar Comissão da Verdade

Elza Fiúza/ABr

Inaugurada sob Lula, sobreviveu à posse de Dilma Rousseff a dicotomia que permeia a tentativa de içar das profundezas da história os excessos da ditadura.

Nessa matéria, para usar vocábulos caros a Golbery do Couto e Silva, feiticeiro do velho regime, o governo balança em ritmo de sístoles e diástoles.

Ao tomar posse, a nova ministra dos Direitos Humanos, a petista Maria do Rosário, rogou ao Congresso que aprove a Comissão da Verdade.

Trata-se daquele organismo idealizado com o propósito de cavoucar o passado e trazer à superfície a “verdade” sobre os mortos e desaparecidos da ditadura.

Na platéia, ouvia o pronunciamento de Maria do Rosário o colega Nelson Jobim, mantido na pasta da Defesa a pedido de Lula.

Uma das razões que levaram o ex-presidente a encarecer a Dilma que preservasse Jobim foi, precisamente, a necessidade de administrar os fantasmas de outrora.

Jobim funciona na Esplanada como espécie de anteparo entre os comandantes militares e o pedaço esquerdista do governo.

Zelou para que o texto do projeto que Maria do Rosário quer ver aprovado fosse modificado, de modo a não abespinhar as fardas.

Na versão original, o projeto mirava nos militares (sístole). A versão final ensejou também o resgate dos excessos cometidos pelos esquerdistas que foram à sorte das armas (diástole).

De resto, cuidou-se para que a memória a ser resgatada não ficasse restrita aos 20 anos de ditadura inaugurados em 1964.

Maria do Rosário utilizou um timbre adequado. Foi assertiva: "O Estado brasileiro tem que resgatar sua dignidade em relação aos mortos e desaparecidos na ditadura".

Mas, zelosa, ecoou o discurso de posse da nova comandante em chefe das Forças Armadas: "Como disse a presidente Dilma, não se trata de revanchismo".

Presa por quase três anos, Dilma evocou a torturada que sofreu. Porém, realçou que não guarda na geladeira o sentimento do “rancor”.

Equilibrando-se sobre palavras medidas na escala dos centímetros, Maria do Rosário disse que não há contradição entre direitos humanos e Forças armadas.

Declarou que sua pasta e o ministério de Jobim "vão trabalhar juntos". Não se pretende, segundo ela, “personalizar” ou identificar “um ou outro”.

"Minhas palavras são de conciliação”, afirmou. "Buscaremos o jeito brasileiro de processar o que houve naquele período". Em vez de excluir, incluiu os militares: “São parte da democracia".

Acrescentou: "Certamente entre as Forças Armadas existe também o desejo de que tenhamos juntos esse processo constituído".

Impossível prever aonde a coisa vai chegar. Mas é imperioso reconhecer que a nova ministra não é do tipo que valoriza a bravata em detrimento do resultado.

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Escrito por Josias de Souza às 18h55

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